Os olhos são abertos pelas luminosas cortinas matinais. Uma cerração ainda paira por cima da cama e naquelas regiões distantes em que se supõe haver uma escrivaninha, um armário e uma TV. Subitamente duas coisas se movem sob o solo, entre a neblina: são as duas pernas puxando o corpo para o frio do lado de fora da colcha canjica.
Nestas horas de neblina tão espessa, são as pernas que mandam sob o resto do corpo. Elas deslizam escada abaixo. Passando pela bancada de pedrinhas macias e coloridas, as pernas ganham ajuda de alguém: uma mão, com todos os seus cinco dedos. Eles agarram a pedra marrom, peluda e fofinha. Outros dedos armam por trás, e um feixe prateado atravessam a pedra em uma piscada, revelando o seu surpreendente interior verde e gostoso. Kiwi! Agora os nomes estão vindo à tona: kiwi, faca, prato, cascas, mãos sujas, guardanapo, torneira-pia, água, rosto, olhos, aaaahhhhhrrr.
Agora as pernas e mãos estão ficando mais calmas, devolvendo o controle ao corpo. Aquilo dourado é uma chave: mão esquerda, vá pegá-la! Pernas, até aquele encaixe... aquele... fechadura! Gira, puxa, abre, aaaaahhh - a luzzzzz... Bolso, outra chave, outra porta, banco, pasta, volante, ré, marcha. Vamos ao trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário